"A CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil) obteve importantes vitórias no 10º Congresso da Contag (Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura) e tem tudo para crescer no sindicalismo rural, desde que trabalhe com inteligência e não cometa os mesmos erros da CUT". A opinião é do presidente da Fetaesc (Federação dos Trabalhadores na Agricultura de Santa Catarina) e da Direção Nacional Executiva da CTB, Hilario Gottselig, que concedeu a seguinte entrevista ao jornalista Umberto Martins.

P- Qual sua avaliação do 10º Congresso da Contag? 
R- Foi um congresso bastante positivo. Nós, que atuamos num campo mais próximo da CTB, tivemos algumas vitórias importantes. Conseguimos manter a unidade da Contag, buscar uma composição ampla e garantir alguns princípios básicos, de independência, autonomia, unicidade, assim como um projeto político de construção de um novo modelo de desenvolvimento rural, sustentável e solidário.

É preciso registrar também que, pela primeira vez na história, a presidência da Contag será exercida por uma liderança proveniente da região Sul e provém de uma federação ligada à CTB, a Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Rio Grande do Sul. Além disto, sindicalistas da CTB foram eleitos para outros cargos dirigentes importantes. Outra vitória significativa foi a desfiliação da Contag à CUT e a decisão de manter a independência, com a confederação trabalhando prioritariamente com duas centrais, CTB e CUT.

A questão da unicidade merece destaque. A força do congresso se traduziu no fato de que garantiu a unicidade dentro da pluralidade de ideias e concepções políticas. No campo da Contag temos as correntes políticas que defendem a pluralidade e a unicidade. Assegurar um centro com unidade, garantindo a unicidade, foi uma grande vitória. Historicamente este congresso ratificou a defesa da unicidade e a agregação de todas as forças políticas. A CTB, que sempre defendeu a unidade e a unicidade, teve um papel central neste processo. A CUT defende a pluralidade na organização sindical e na prática fortalece outras organizações, inclusive em detrimento da estrutura Contag. Esta foi uma das principais causas da desfiliação por 332 votos de diferença, uma diferença significativa.

P- Como foi a votação da unicidade? 
R- A unicidade foi aprovada por unanimidade. Mesmo os sindicalistas da Contag ligados à CUT defenderam a unicidade . Houve um grande embate em torno das Fetrafs (Federação de Trabalhadores na Agricultura Familiar, que defendem o desmembramento dos sindicatos ligados à Contag) e a verdade é que tanto cutistas quanto não cutistas não avalizam a conduta dessas federações que na prática levam a divisão sindical ao campo e à Contag.
Os cutistas fizeram um discurso em defesa da unicidade e, depois da filiação da Contag à CUT, garantiram que esta ia mudar, defender a unicidade e condenar as Fetrafs. Mas, os delegados e delegadas não acreditaram. Mesmo alguns companheiros que defendem a pluralidade não se pronunciarem e o resultado não poderia ser outro senão um apoio esmagador, unânime, da unicidade.

P-Quais as perspectivas para a CTB no meio rural? 
R- A CTB tem tudo para crescer no setor rural, desde que trabalhe com inteligência e não cometa os mesmos erros da CUT. Tem de ter sabedoria de compreender as peculariedades do setor rural, assimilar, defender e propagandear o projeto de desenvolvimento do setor rural, que já ficou claro no congresso de fundação e começar a se apresentar e representar melhor o sindicalismo no campo. Com as teses que defende (unicidade, democracia, autonomia, fortalecendo a estrutura Contag, diferentemente da CUT, que estimulou o pluralismo e a divisão) a CTB tem muito mais identidade de propósitos, ideais e posições com o sindicalismo rural. Se soubermos trabalhar com calma, com certeza a CTB vai se fortalecer muito, inclusive em setores cutistas. No Sul, a CTB já está muito bem e com certeza vai ampliar sua influência. Com o propósito de definir melhor nossa estratégia realizaremos nos dias 8 e 9 de abril um Encontro do Setor Rural na sede do CTB. Vamos avançar, principalmente na filiação de novos sindicatos do campo.