Viajar de ônibus pelo Brasil e para o exterior fica mais caro a partir desta quinta-feira (1º). A Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) autorizou aumento de 2,13% no preço das passagens interestaduais e internacionais.

Com o reajuste, o custo do transporte por terra fica menos competitivo frente à aviação. De 10 destinos pesquisados pelo Correio, em quatro o trajeto aéreo figurou como mais vantajoso.

Se a compra for realizada com um mês ou mais de antecedência, na maioria dos casos é possível encontrar tarifas aéreas mais interessantes do que as oferecidas pelas empresas de ônibus.

"O setor aéreo passou a ser concorrente do terrestre porque cresceu e está aberto para mais empresas atuarem. Isso não tem acontecido no segmento de transporte por terra", explicou Joaquim Aragão, especialista em transporte da Universidade de Brasília (UnB).

"Essa competição não existe porque cada empresa é dona de um pedaço do Brasil. Por isso, o preço tem de aumentar todo ano."

Segundo ele, o encarecimento nas tarifas domésticas e internacionais não tem relação com problemas de infraestrutura das estradas ou custo do diesel — a ANTT eleva as passagens porque tem um contrato com as empresas para autorizar reajustes anualmente.

De acordo com levantamento do Correio, ir de Brasília a Belo Horizonte (MG) de avião está cerca de 27% mais barato do que as passagens de ônibus.

Para o Rio de Janeiro, fica 19,5% mais em conta. Se o destino for Salvador (BA), o custo é praticamente o mesmo. Mas, se a alimentação no trajeto for considerada, a melhor opção ainda é voar.

Reforma
Procurada pela reportagem, a agência reguladora não quis explicar o aumento ou comentar a perda de competitividade do setor.

Com esse encarecimento das viagens por estrada, voar, além de prático, está se tornando mais barato do que transitar de ônibus entre as cidades.

"É preciso uma reforma no transporte terrestre. Aumentar o setor e liberar para que qualquer empresa com capacidade possa oferecer o serviço. Isso permitiria maior competição e queda de preços", sugeriu Aragão.

Enquanto isso não acontece, a recomendação para quem vai viajar é planejar e pesquisar bastante. Se o consumidor tiver paciência e comprar as passagens aéreas com pelo menos um mês de antecedência, até mesmo nas internacionais o avião sai mais barato.

Para um brasiliense ir para Buenos Aires de ônibus, por exemplo, terá de gastar R$ 120,68 até São Paulo. De lá, deve pegar outro ônibus para a Argentina e desembolsar mais R$ 213.

O custo final, só com transporte, fora a alimentação de quase três dias de estrada, já é superior ao preço aéreo. Para julho e agosto, as companhias estavam com tarifas mínimas de R$ 317 — cerca de 5% mais baratas que o transporte terrestre.

A Associação Brasileira das Empresas de Transporte Terrestre de Passageiros (Abrati) foi procurada pelo Correio e, apesar de representar mais de 100 empresas de ônibus, disse, por meio da assessoria de imprensa, que não acompanha a "operacionalização" do setor.

Por isso, não sabia dizer se o reajuste foi suficiente. Informou ainda que não comenta aumento de passagens porque somente a ANTT decide sobre quanto os valores devem subir.